ECOPEDAGOGIA: fundamentos e compreensões

Publicado Por: Josué Joaquim da Silva

 

Ao ouvirmos o termo Ecopedagogia, logo vem a ideia de que estamos falando da relação entre pedagogia e Educação Ambiental. Mas, está para além dessa questão.

É importante você avançar com a leitura deste artigo, para melhor compreender a respeito dessa temática que parecer ser atual, porém, há pelo menos 20 anos está presente nas discussões no âmbito educacional.

 

A Ecopedagogia é considerada um movimento atual que busca refletir sobre a prática pedagógica do professor no contexto escolar. Compreende-se que, tem como fundamento o ensino de uma educação voltada para a sustentabilidade, apresentando uma perspectiva educativa que desperte o olhar reflexivo por parte do sujeito vivendo em pleno mundo globalizado.
Entende-se assim, a importante contribuição que a Ecopedagogia traz para a formação social, tendo em vista que nos convida a repensarmos sobre o que estamos ensinando e aprendendo em nosso cotidiano escolar, considerando que ainda é preciso despertarmos sobre a aplicabilidade de nossa prática pedagógica no âmbito social. A Ecopedagogia vem propor reflexões e ações educativas que ultrapassem os muros da instituição escolar, uma nova pedagogia dos direitos que associa direitos humanos – econômicos, culturais, políticos e ambientais.
O termo Ecopedagogia surge pela primeira vez no Forum Global 92, no qual se discutiu sobre a necessidade de uma educação ambiental voltada para a sustentabilidade (GUTIÉRREZ, 1996). A esse respeito, Gadotti (2001) destaca, “os textos de Francisco Gutiérrez, diretor do Instituto Paulo Freire da Costa Rica. Dele ouvi pela primeira vez, em 1992, a palavra “ecopedagogia”.
Na visão de Gutiérrez (1996) que foi o primeiro a despertar para a palavra “ecopedagogia” no início dos anos de 1990, realça que trata-se de promover em sentido de “facilitar, acompanhar, possibilitar, recuperar, dar lugar, compartilhar, inquietar, problematizar, relacionar, reconhecer, envolver, comunicar, expressar, comprometer, entusiasmar, apaixonar, amar” (1996, p. 82).
Em 1999 o Instituto Paulo Freire promoveu em São Paulo o I Encontro Internacional da Carta da Terra na Perspectiva da Educação. Com a participação de 17 países e 13 Estados brasileiros, representados pelos seus educadores e, também, pelos pesquisadores, especialistas, profissionais e estudantes das diversas ciências e atividades humanas.
O evento promoveu reflexões e a troca de experiências sobre os temas Ética, Cultura da Sustentabilidade e Prática da Não-violência. Um dos resultados dos trabalhos foi a criação do Movimento pela Ecopedagogia, ficando o IPF responsável pela organização e encaminhamento das atividades relacionadas ao tema. “Na Assembléia Geral de Encerramento, os participantes elaboraram três documentos: Contribuição dos Educadores à Carta da Terra, a Agenda de Compromissos 1999-2020 e o Movimento pela Ecopedagogia” (GADOTTI, 2001, p. 100).
A ecopedagogia busca despertar um novo olhar sobre a educação, um olhar global, uma nova maneira de ver o mundo a partir, da vida cotidiana, que busca sentido a cada momento, em cada ato, que pensa a prática. Não está relacionada apenas aos educadores, mas aos habitantes da Terra em geral. A ecopedagogia nos convida a perceber a terra como uma comunidade única, e que nos permite viver de forma democrática nesse planeta juntamente com outros seres do ecossistema.
Para Gadotti (2001) a ecopedagogia também pode ser entendida como um movimento social e político. Como todo movimento novo, em processo, em evolução, ele é complexo e, pode tomar diferentes direções, até contraditórias. Ele pode ser entendido diferentemente como o são as expressões “desenvolvimento sustentável” e “meio ambiente”.
A ecopedagogia implica uma reorientação dos currículos para que incorporem certos princípios defendidos por ela. Estes princípios deveriam, por exemplo, orientar a concepção dos conteúdos e a elaboração dos livros didáticos. Podemos dizer que educar, segundo os ideais da Ecopedagogia, é ensinar e aprender a partir de uma visão integral, ou seja, holística do mundo.
A ecopedagogia pretende desenvolver um novo olhar sobre a educação, um olhar global, uma nova maneira de ser e de estar no mundo, um jeito de pensar a partir da vida cotidiana, que busca sentido a cada momento, em cada ato, que “pensa a prática” (FREIRE, 1996), em cada instante de nossas vidas, evitando a burocratização do olhar e do comportamento.
A ecopedagogia também tem como perspectiva a valorização da cultura existente na formação social, tendo em vista que no processo de formação humana estão envolvidos diversos aspectos da pessoa, inclusive as questões voltadas para construção de sua identidade, respeito à diversidade cultural e reconhecimento de suas potencialidades (GADOTTI, 2001).
Assim, a Ecopedagogia como movimento recente no contexto educacional vem reforçando o lugar da educação na formação do sujeito como cidadão pertencente ao espaço onde vive e como cidadão do mundo. Como perspectiva de transformação, ilumina o caminho para a sustentabilidade da vida humana, prezando o respeito e a diversidade cultural.

 

Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (coleção Leitura)

GADOTTI, Moacir. Pedagogia da terra: Ecopedagogia e educação sustentável. In: Paulo Freire y la agenda de la educación latinoamericana en el siglo XXI. Editora: Clasco. Buenos Aires, 2001.

GUTIÉRREZ, Francisco. 1996 Ciudadania planetaria (Heredia) mimeo.